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ATRAVESSAMENTOS

ATRAVESSAMENTOS

Por SERGIO MOURA, Artista Educador

Durante séculos, a Pintura foi a mãe das artes.

A fotografia conquistou o Mundo e o fotógrafo tornou-se operário fiel tendo como pensamento único registrar os fatos, as coisas, formatar memória. Seu foco era sempre objetivo, mas superficial. Ele não se via como criador.

Duchamp denunciava sem parar que a arte jamais seria reduzida à visão retiniana.

O olho, considerado por Merleau Ponty, o chão da arte, nunca parou de vislumbrar novos pontos de vista, recriar sentidos.

Carlos Nigro não deseja somente fotografar. Com ele podemos viajar no infinito e imensurável.

Foi isso que levou o ser humano a descobrir a arte, reinventando a vida, vivenciando encantamentos e perplexidades. Tudo é mistério no mar de perguntas para descobrirmos a beleza da totalidade, do silêncio criador, do encantamento que nos rodeia e que, como bem lembrou Dostoiévski, pode salvar o mundo!

Nigro vai fundo e nos convida ao desconhecido.

Em suas fotos, o artista desvela estereótipos para alcançarmos o sagrado.

“...o invisível no visível, diria Klee.”

Não são apenas fotos, mas pensamentos criativos, artimanhas lúdicas de quem sabe brincar com a vida, valorizando nossa maior capacidade, materializando ideias, espiritualizando imagens. Não são imagens, todavia, são brinquedos no campo da criação onde todos participam da grande brincadeira cósmica que nos faz dançar e nos leva para o quase nada da eternidade.

 

Curitiba, 2020

Por NIRO NASH, Pesquisador e crítico fotográfico

Um olhar vagante pode perceber algumas coisas, mas não toda a riqueza da obra iconológica de Carlos Nigro. Para isso é necessário alguma sutileza, olhar com um olhar do próprio artista, que esse mesmo talvez nem saiba que exista.

Também há o desnecessário, que é procurar por uma lógica ou discurso totalizante, pois as imagens em sua maioria são fragmentos de um sistema complexo que pode ser rearranjado de diversas formas. E esse sistema complexo emerge das lentes do autor com naturalidade e simplicidade, um cotidiano que às vezes não vemos, mas que as imagens insistem em dizer que sim, que há vida ali. Vida em preto-e-branco, cheia de contrastes e aparições surpreendentes, como uma escada em curva, que é um rico e doce acompanhar com os olhos em meio a linhas retas, um girassol que insinua que ficará amarelo em instantes (por pura revolta), quatro tipos de piso e um ralo em uma única imagem, que passam a sensação de serem totalmente alheios e indiferentes uns aos outros.

Olhar as imagens do autor é um passeio errático e prazeroso nas descobertas, na construção e na desconstrução, depende, por exemplo, se se deseja ir da bolacha aos fragmentos ou o inverso. Na transversal há outros caminhos.

 

Brasília, 2020

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